O MPB é um gênero musical extremamente importante para a história do Brasil, isso porque este estilo serviu como base de uma boa parte da construção identitária do brasileiro e, consequentemente, foi de muita valia para o que consideramos hoje como cultura. Junto à música popular brasileira, temos os próprios Festivais de MPB que contribuíram consideravelmente na história do Brasil.

O ápice desse estilo de música ocorreu em uma época em que as pessoas não podiam expressar seus sentimentos, suas indignações com a realidade e nem suas inclinações políticas. O MPB foi, nesse cenário de ditadura militar (que ocorreu entre 1964 e 1985), uma forma das pessoas, principalmente os mais jovens, de dizerem o que eles sentiam por meio de música e poesia. 

Nessa época, mesmo que a música fosse uma forma de expressão, nem todas passavam pela censura. Assim, muitas letras do MPB possuem uma carga pesada de mensagens que só podem ser realmente compreendidas a partir de muito estudo e compreensão total do que se passava naquele regime ditatorial. Nesse cenário muitos artistas foram presos, torturados e até exilados. 

Os festivais de MPB aparecem como uma complementação do que era arte e do que aquelas músicas queriam falar. Assim, milhares de jovens se reuniam em um só lugar para cantar, gritar e, de uma forma ou outra, protestar contra tudo que os contrariavam dentro da ditadura militar. Assim, essas reuniões de artistas da música popular brasileira tinham também um forte viés político.

Mesmo que houvesse a possibilidade da polícia aparecer e acabar com toda a festa, celebração e a luta, era mais difícil que isso acontecesse quando havia um número de pessoas grandes juntos que, mesmo com a pretensão política por trás, só estavam escutando e cantando canções. Quando havia interrupções nesses eventos, a comoção era muito grande, o que causava mais dor de cabeça para o governo.

Gilberto Gil e Os Mutantes no III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record em 67
Gilberto Gil e Os Mutantes no III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record em 67. | Foto: Antonio Andrade/Veja SP.

História dos festivais de MPB e os mais famosos

As contribuições dos festivais de mpb para a liberdade de expressão do brasileiro é imensurável e podemos citar, nesse contexto, alguns que se destacaram como os mais importantes. Os chamados “Festivais da Canção” correspondem a um conjunto desses festivais muito relevantes para a cultura brasileira.

Esses festivais aconteciam, majoritariamente, na extinta TV Excelsior, na TV Record e na TV Rio e Rede Globo. Apesar dessas que passaram em rede aberta de televisão serem mais famosas, justamente devido ao alto alcance, existiram outros festivais não televisionados que atraiam milhares de pessoas para os shows. 

TV Excelsior

A maioria desses festivais de televisão tinha como o principal intuito premiar canções e ou cantores. Na TV Excelsior, tivemos dois principais festivais: o I Festival de Música Popular Brasileira e o Festival Nacional de Música Popular Brasileira. 

No primeiro, a canção vencedora foi “Arrastão” de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina. No segundo “Porta-Estandarte” venceu, escrita por Geraldo Vandré e Fernando Lona e interpretada por Tuca e Airton Moreira.

TV Record

Na TV Record houve a continuação dos Festivais de Música Popular Brasileira, sendo a rede de televisão responsável por televisionar a segunda, a terceira, a quarta e a quinta edição deste festival. A segunda edição deu o prêmio para Chico Buarque pela música “A Banda”, que recebeu a interpretação dele mesmo e de Nara Leão.

A terceira edição premiou a música  Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, cantada na voz de Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo. A quarta edição contou com uma dinâmica diferente, onde havia o júri popular e o especial. O especial escolheu como campeã “São, São Paulo Meu Amor”, canção escrita e cantada por Tom Zé e o popular optou por “Benvinda”, que tem Chico Buarque como compositor e intérprete. 

Para finalizar, a quinta edição, que ocorreu em novembro de 1969, escolheu como melhor música do ano a canção escrita por Paulinho da Viola, que também a interpretou, chamada “Sinal Fechado”.

TV Rio e Rede Globo

A TV Rio e a Rede Globo assumiram, nesse contexto, uma parceria que se baseava na divisão do direito de televisionar as edições do Festival Internacional da Música que, apesar do nome, tocava mpb. Houveram, nessa época, VII edições da FIC, em que a primeira premiou  a música “Saveiros”, escrita por Dori Caymmi e Nelson Motta, e interpretada por Nana Caymmi.

A II FIC deu o primeiro lugar para “Margarida” , canção de Gutemberg Guarabira, que foi cantada por ele mesmo e pelo Grupo Manifesto. A III FIC escolheu como campeã Sabiá, uma das mais famosas canções escritas em conjunto por Chico Buarque e Tom Jobim, que escolheram Cynara e Cybele para a interpretar. 

Em primeiro lugar da quarta edição da FIC temos “Cantiga por Luciana” de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós e interpretada por Evinha. A quinta edição premiou a canção “BR-3”, uma composição de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, conhecida na voz de Tony Tornado.

A FIC VI teve “Kyrie” como música vencedora, ela foi escrita por Paulinho Soares e Marcelo Silva e tem Evinha na voz. Já a VII e última edição da FIC premiou a canção “Fio Maravilha”, que tem como compositor Jorge Ben e Maria Alcina como intérprete.

Série Arte no Outono

Mesmo que esses festivais de MPB já não tenham o mesmo significado político, já houveram algumas mudanças nesse cenário. Entretanto, ainda existem alguns festivais que tocam música popular brasileira e que possibilitam aos entusiastas desse gênero a contemplação de um tipo de música que atinge a alma e que oferece um campo de reflexão do que já aconteceu em nossa história e o que pode estar se repetindo.

Pensando nisso, o auditório Cláudio Santoro, localizado em Campos do Jordão (SP), criou a “Série Arte no Outono – Campos: cores e cantos”, um festival de MPB no outono, em que vários cantores se apresentarão em dias diferentes. O primeiro show, programado para o dia 23 de abril de 2022, teve como atração o cantor e compositor Paulinho da Viola. 

Além de Paulinho da Viola, a organização do evento divulgou outros nomes como Maria Rita (30/04), Zeca Baleiro (07/05), Sandra de Sá (14/05), Alceu Valença (21/5), Renato Teixeira (04/06) e Gal Costa (25/06) que irão se apresentar nos festivais de MPB da “Série Arte no Outono”, futuramente. Shows têm ingressos a preços populares: R$ 80 a inteira e R$ 40 a meia entrada.