Ouça ao vivo
No ar agora

Brasileiras sabem pouco sobre fertilidade e planejamento reprodutivo, diz estudo

Mulher 4.0
14:17 29.11.2024
Autor

Mulher 4.0

Aline Dini e Michelle Trombelli
Universo feminino

Brasileiras sabem pouco sobre fertilidade e planejamento reprodutivo, diz estudo

Embora muitas mulheres estejam bem-informadas sobre métodos contraceptivos, o desconhecimento sobre a fertilidade mostra que temos um longo caminho a percorrer

Aline Dini - 29.11.2024 - 14:17
Brasileiras sabem pouco sobre fertilidade e planejamento reprodutivo, diz estudo
Foto: Freepick

Quando falamos sobre planejamento reprodutivo, o que vem à sua mente? É bem provável que você responda: “anticoncepcional” ou algo relacionado à contracepção. A verdade é que fomos educadas para prevenir gravidez desde muito cedo. Muitas de nós, ao menstruarmos pela primeira vez, recebemos de nossas mães orientações carregadas de medo e tabus. E assim, crescemos com pouco conhecimento sobre a nossa saúde reprodutiva e fertilidade. Falar sobre planejamento familiar se tornou sinônimo de contracepção, quando, na verdade, precisamos conversar sobre planejamento reprodutivo, que é muito mais voltado às escolhas individuais do que da “formação” de família. 

E uma pesquisa inédita do Instituto IPEC, encomendada pela Merck, colocou em dados o que vemos no dia a dia, revelando lacunas significativas no conhecimento das brasileiras de 25 a 45 anos sobre infertilidade e preservação da fertilidade: embora 88% das brasileiras conheçam métodos contraceptivos, apenas 58% têm algum entendimento sobre infertilidade. Quando o assunto é congelamento de óvulos, 55% desconhecem o procedimento e 86% nunca ouviram falar em oncopreservação, técnica voltada para o congelamento de óvulos de pacientes oncológicos antes do início do tratamento contra o câncer. 

Corrida contra o tempo

Outro ponto relevante desta pesquisa tem tudo a ver com o tema do meu trabalho no Mãe aos 40: passamos a vida inteira indo ao ginecologista e tendo o contraceptivo como “solução” para tudo que se refere à saúde reprodutiva, mas poucos falam efetivamente sobre fertilidade. Crescemos acreditando que basta menstruar para engravidar. Mas não é simples assim para todas, já que com o passar dos anos perdemos não só quantidade de óvulos, como também qualidade. Esse é o principal drama das mulheres que acompanho há anos no meu projeto. O resultado da desinformação é que o adiamento da maternidade sem planejamento responde por uma parcela significativa dos casos de infertilidade. 

O estudo apontou que 55% das mulheres que já buscaram tratamento de fertilidade consideraram a decisão como “tardia”. Além disso, apenas 5% discutiram tratamentos de infertilidade ou preservação com seus ginecologistas.É uma lacuna gigantesca, uma falha de comunicação absurda entre médico e paciente. Na prática, ouvindo centenas de mulheres, percebo que falar sobre fertilidade parece não importar até que a mulher faça 35 anos. E se se ela chega ao consultório com o desejo de ser mãe próxima dos 40 anos, recebe um balde de água fria ao entender que as chances de engravidar são bem reduzidas nessa fase da vida, além de serem maiores os riscos de perdas gestacionais e complicações na gravidez. 

Termos como “gestante geriátrica” e “grávida idosa” continuam presentes no vocabulário médico. E assim, a mesma mulher que passou a vida toda indo ao ginecologista e entendendo quase nada sobre sua saúde reprodutiva é apresentada, de uma hora para a outra, a muitos dados, estatísticas e riscos. O acesso à informação precisa acontecer ao longo dos anos, pois é fundamental para que nós, mulheres, tenhamos escolhas reprodutivas alinhadas às suas necessidades e objetivos de vida. Uma coisa é não querer ser mãe. Outra, bem diferente, é não poder ser mãe ou viver o drama da infertilidade por falta de informação. 

E quando se trata de doenças que afetam a fertilidade, quatro em cada dez mulheres já receberam diagnósticos de condições como síndrome dos ovários policísticos, obesidade, alterações na tireoide, miomas uterinos e endometriose, sendo a prevalência maior entre mulheres de 36 a 45 anos. Essas condições não apenas desafiam o bem-estar físico, mas também afetam profundamente a saúde emocional e a qualidade de vida dessas mulheres, especialmente em uma fase em que muitas estão planejando ou tentando engravidar. 

Embora a pesquisa tenha focado nas mulheres, é essencial lembrar que fatores masculinos, como qualidade do sêmen e alterações hormonais, também afetam a fertilidade. O estudo reforça a necessidade de uma abordagem abrangente no diagnóstico e tratamento, envolvendo ambos os parceiros.

Barreira financeira e outras prioridades de vida 

Se a primeira barreira a respeito do planejamento reprodutivo é a falta de informação, a segunda é, sem dúvidas, a barreira financeira. Afinal, mesmo quando a mulher já compreendeu os impactos do adiamento da gravidez e deseja congelar óvulos para uma maternidade futura, por exemplo, o custo do procedimento continua sendo um grande obstáculo: 47% das entrevistadas citaram questões financeiras como a principal barreira. A dificuldade de acesso ao sistema público e a falta de cobertura por planos de saúde também foram apontadas.

Que o congelamento de óvulos ou a Fertilização in Vitro não são procedimentos acessíveis à maioria da população não é segredo para ninguém. E tendo isso em mente, a verdade é que mesmo quem deseja realizá-los não dão um segundo passo em busca de entender exatamente os custos e formas de pagamento. 90% das entrevistadas nunca solicitaram um orçamento para tratamentos de fertilidade. Este dado reflete a baixa conscientização sobre os custos reais e possíveis alternativas. Neste contexto, iniciativas corporativas vêm ganhando força como solução parcial para esse cenário: empresas que oferecem benefícios de fertilidade são consideradas atraentes por 41% das mulheres — percentual que sobe para 47% entre aquelas de 25 a 34 anos. Outro ponto é que apesar de 52% das entrevistadas não se informarem sobre tratamentos para infertilidade e preservação da fertilidade, muitas priorizam outros aspectos da vida, como a conquista de patrimônio, o crescimento profissional e as experiências pessoais.

Embora os dados reforcem a necessidade de conscientização, eles também apontam oportunidades para criar um futuro em que a saúde reprodutiva seja mais acessível. Iniciativas que combinem políticas corporativas, acesso ampliado aos tratamentos e diálogos informativos são essenciais para mudar este cenário. 

Siga a Novabrasil nas redes

Google News

Tags relacionadas

aline dini brasileiras fertilidade Universo feminino
< Notícia Anterior

Diego Amorim: "Resumo musical da semana"; confira

29.11.2024 14:00
Diego Amorim: "Resumo musical da semana"; confira
Próxima Notícia >

Álbuns para conhecer o jazz brasileiro; Milton + Esperanza é um deles

29.11.2024 15:15
Álbuns para conhecer o jazz brasileiro; Milton + Esperanza é um deles
colunista

Mulher 4.0

Suas redes