
Hábitos saudáveis protegem a saúde cardiovascular

Hábitos saudáveis protegem a saúde cardiovascular
Médicos e pacientes ouvidos na série especial “Saúde do coração: combatendo o infarto e o AVC” trazem informação, inspiração e acolhimento

Cerca de 400 mil pessoas morrem por ano no Brasil vítimas de doenças cardiovasculares como o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o número representa 1 morte a cada 90 segundos, somando 46 óbitos a cada hora. Todos os médicos com quem conversei para a série especial “Saúde do coração: combatendo o infarto e o AVC” foram unânimes em dizer que todos nós temos condições de mudar esse cenário – e de forma simples: adotando hábitos saudáveis.
Antes de mais nada, o cardiologista do Hcor, Jasvan Leite, nos ensina quais são as diferenças entre infarto e AVC. “O AVC afeta o cérebro e pode ser decorrente da obstrução de uma artéria cerebral, que é o AVC isquêmico, ou pela ruptura de um vaso sanguíneo, levando ao extravasamento sanguíneo no tecido cerebral, que é o AVC hemorrágico. Já o infarto acontece no coração e é resultado da obstrução da coronária, que acaba impedindo o fluxo sanguíneo para alguma parte do músculo cardíaco”.
Tanto para o infarto como para o AVC os principais fatores de risco são: sedentarismo, pressão alta, colesterol elevado, diabetes, obesidade, estresse, sono desregulado, dependência de cigarro, de álcool e de outras drogas e o descaso e/ou desinformação sobre a importância da realização de exames de rotina. Ou seja: tudo absolutamente controlável por cada um de nós. O Prof. Dr. Álvaro Avezum, head do Centro Especializado em Cardiologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, traduz isso em números: “A doença cardiovascular é passível de prevenção e não obrigatoriamente a sociedade tem de ter infartos e AVCs. Dentro da área de prevenção, para evitarmos o adoecimento e a morte prematura, hoje conseguimos prevenir 90% de todos os casos de infarto e AVC, porque conseguimos identificar, prevenir e tratar os principais agentes de risco”.
O que fica evidente é que todos esses fatores de risco estão interligados. Quem não se exercita costuma comer de forma menos regrada, muitos fumam, bebem, aumentam o peso corporal, têm mais chances de ter diabetes e pressão alta, comprometem o sono, incrementam o estresse…
Estresse! Esse foi um fator de risco determinante para o adoecimento cardiovascular do empresário Ronivaldo Otávio Alquimin. Ele tinha hábitos saudáveis, praticava atividade física regularmente, se alimentava de forma balanceada, mas só entendeu os malefícios da correria frenética quando soube que seu coração estava precisando de ajuda. “Fazia todos os anos meus exames preventivos e um dia o Dr. César Jardim me pediu para realizar uma angiotomografia. Para a minha surpresa estava com uma veia parcialmente entupida e precisei me submeter a uma cirurgia. Passou um filme na minha cabeça e achei que ali estava se findando um ciclo de esportes”. Apesar do susto, o fato de sempre ter cuidado da saúde o ajudou a passar pela cirurgia e pelo tratamento da melhor forma possível. Hoje ele segue fazendo a sua corridinha regular e a sua musculação, sempre de olho nos exames de rotina e nos hábitos do cotidiano. Ah: e passou a se relacionar de forma equilibrada com o trabalho!
O caso do Ronivaldo ilustra bem o que os médicos são unânimes em afirmar: exames de rotina são essenciais para a manutenção da saúde cardiovascular. E isso vale para qualquer pessoa: com ou sem doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão e obesidade, como para esportistas de diferentes níveis de rendimento. A PhD em cardiologia Fabiula Schwartz, cardiologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) e integrante do Time de Especialistas da Maratona do Rio, explica que o check-up é a chance de se detectar alguma coisa que pode até mesmo não dar sinal algum. “Se pensarmos que a maior causa de morte no mundo é por doença cardiovascular, e que muitas vezes a soma de fatores de risco é o que pode precipitar um evento como AVC ou infarto, especialmente quando o corpo é mais exigido, então é melhor, nesse rastreamento do risco, que façamos um check-up. Ele é a oportunidade de identificar e controlar as condições de risco, inclusive com exercício”.
O cardiologista e maratonista Marcelo de Moura, da Care Club, complementa as orientações da colega, explicando que atletas amadores que treinam pesado, que praticam esportes de alta resistência como maratona e triatlon, por exemplo, precisam de cuidados ainda mais minuciosos. “A atenção com esses atletas tem de ser um pouco mais regular, com alguns exames específicos, porque a demanda desse sistema cardiovascular, desse coração, é muito maior do que o de um praticante de atividade física leve. Muitas vezes esses atletas já fazem Ironman, maratona, e acham que estão saudáveis por serem atletas. Mas é aí que mora o erro: é importante fazer acompanhamento periódico pelo menos uma vez por ano, principalmente depois dos 35 anos, porque podem existir patologias que vão sendo adquiridas com o passar do tempo”.
Dra. Fabiula Schwartz explica como é feito o acompanhamento nos treinos desses atletas. “Há casos de indivíduos que se exercitam em alta performance tendo doença cardíaca. Entretanto, temos que fazer o controle da frequência cardíaca, da percepção de esforço e do batimento cardíaco, do conhecimento de sinais como tontura, desmaio, quase desmaio, fadiga desproporcional ao esforço realizado, taquicardia… O controle e a percepção são muito importantes para que se mantenha o nível de esforço, se avalie as condições da competição, se perceba condições adversas externas como calor e aumento da temperatura facilitando hipertermia e desidratação, por exemplo. Nada disso pode aumentar os riscos para essas pessoas”, diz.
Independentemente do tipo de esporte e do nível de desempenho é comum e compreensível que, depois de um episódio cardiovascular, surja aquela dúvida e aquele temor de voltar ao exercício físico. Tirando um caso ou outro muito específico e raro, na grande maioria das vezes a pessoa não só pode como deve voltar a mexer o corpo – sempre com acompanhamento médico. “Para as pessoas que têm receio, medo de fazer, nossa função é desmistificar essa impressão. É preciso entender a atividade física como aliada, seja na forma de prevenir a doença cardiovascular, seja na forma de prevenir os fatores de risco, seja na forma de tratar os fatores de risco uma vez instalados. Quem faz exercício tem mais facilidade para parar de fumar, tem mais facilidade para perder peso – o que vai contribuir no combate à obesidade -, melhora seu nível de pressão arterial, melhora as taxas de triglicérides, colesterol e glicose”, afirma o médico do HCor, Dr. César Jardim.
Segundo o cardiologista, atividade física é um santo (e gratuito) remédio! “Se a gente for entender como uma medicação, a atividade física é perfeita, porque muitas vezes pode não custar nada e é uma medicação que vai tratar e influenciar de forma benéfica ‘n’ fatores de risco que estão envolvidos com a doença cardiovascular”. Se a atividade física é sinônimo de saúde, tabagismo é sinônimo de doença. A médica cardiologista Jaqueline Scholz, diretora do programa de tratamento ao tabagismo do Incor, reforça que muita gente não conhece os prejuízos do tabagismo para cérebro e coração. “Todo mundo acha que causa somente problemas pulmonares, como DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) por exemplo, mas também é fator de risco para vários tipos de câncer e principalmente para infarto e AVC”.
E para usuários de outras drogas: como é possível conciliar o complexo tratamento para dependências químicas às necessidades inerentes à saúde cardiovascular? Segundo o médico Jairo Pinheiro, cardiologista do HCor, o uso frequente e/ou abusivo de álcool, cigarro e outras drogas provoca distúrbios importantes no coração, no cérebro e pode levar o usuário a episódios de infarto e AVC. “Todos esses processos químicos relacionados ao consumo de drogas podem provocar aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, causando arritmias, e podem provocar alteração da coagulação sanguínea deixando o sangue mais espesso e facilitando os fenômenos trombóticos. As alterações da pressão arterial e da coagulação e as inflamações na parede das artérias podem levar à ruptura das placas, causando infarto e AVC”.
Para o Dr. Jairo Pinheiro, tão importante como cuidar do corpo é cuidar da cabeça e do coração. “A pessoa precisa entender que é capaz de tomar conta desse processo. A medida em que entende cada cuidado, todo o tratamento multidisciplinar, o uso de medicações específicas pelo especialista, o apoio fundamental do tratamento psiquiátrico ou da psicoterapia, a participação em grupos de apoio e o apoio da família e das pessoas que ama, isso com certeza vai trazer bons resultados ao longo do tempo”.
Wanda Regina Mota sentiu no coração os efeitos do tabagismo e do estresse crônico: teve um infarto aos 54 anos. “Eu fumava muito, desde os 17 anos, e fazia 10 anos que vinha num processo de muita correria, muitos problemas, muito estresse. Eu tinha largado completamente o exercício físico, estava zerada! Esqueci de tudo o que era saudável. Tudo começou aos poucos, fui sentindo dores nos braços, muitas dores nas costas, tomava remédios e não adiantava, mas não parava de trabalhar e nem ia ao médico. Até que um dia eu percebi que realmente não estava nada bem, fui ao hospital e soube que estava tendo um infarto e precisei passar por uma cirurgia”. Apesar do susto, a cirurgia foi um sucesso e a Wanda passou a cuidar e a se atentar para a própria saúde. “Continuo procurando os melhores hábitos, continuo fazendo meus exames de rotina uma vez por ano e me sinto saudável para qualquer coisa. Estou indo para os 74 anos e me sinto muito bem”, celebra.
Dr. Gilberto Ururahy, médico especialista em medicina preventiva, diretor médico do MED-Rio Check-up e autor dos livros “Como se tornar um bom estressado”, “O cérebro emocional” e “Emoções e saúde” chama atenção para o adoecimento cada vez mais comum entre mulheres. E entre mulheres jovens. “Em 1990, quando começamos a atender, para cada 9 infartos, 1 era em mulher. Hoje, para cada 2, 1 é em mulher. Está havendo uma epidemia de infarto do miocárdio em mulheres jovens. Elas fumam mais, bebem igualmente, dormem mal, assumem várias funções em seu cotidiano e, com isso, o estresse aumenta. Além disso, na pós-menopausa, elas não têm mais os hormônios sexuais femininos que as protegiam das doenças coronarianas”.
Já para casos de acidente vascular cerebral os homens costumam ser as maiores vítimas, mas as mulheres acabam se igualando a eles quando entram na menopausa e também porque vivem mais, explica a médica Sheila Martins, chefe do serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, professora da Faculdade de Medicina da UFRS, neurologista coordenadora do programa de AVC do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, integrante da Rede Brasil AVC e presidente da Organização Mundial de AVC – a primeira mulher, brasileira e latino-americana a liderar a Organização. Segundo ela, a disseminação de informações sérias sobre prevenção é a arma mais poderosa que as pessoas podem ter para cuidarem de si.
“A gente ensinar para a população quais são esses fatores de risco e como fazer para modificá-los faz uma enorme diferença no número de casos de AVC. O que a gente tem recomendado é usar um aplicativo gratuito chamado ‘Riscômetro de AVC’, que foi desenvolvido na Nova Zelândia, mas que foi traduzido para o português, onde a pessoa calcula o seu risco de ter um AVC a partir de algumas perguntas que ela responde. A partir disso vai vir uma lista dos seus fatores de risco e como modificar um por um. Ela também pode receber mensagens para lembrar de fazer atividade física, parar de fumar, se alimentar melhor”. Segundo Dra. Sheila Martins, a prática regular de atividade física reduz em até 36% as chances de uma pessoa sofrer um AVC.
E o fator genético: que peso tem para casos de infarto e AVC? Segundo o médico cardiologista Dr. Rafael Amorim, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alterações genéticas hereditárias aumentam as chances de surgirem doenças cardiovasculares, mas fatores ambientais e comportamentais também contam muito. “Apesar de muitos estudos já terem tentado definir quais escores de risco, quais grupos de variantes genéticas podem ser potenciais marcadores que levem a classificar o indivíduo como tendo maior risco de doença cardiovascular, isso ainda não está amplamente difundido na prática clínica. Alguns estudos mostraram controversas quando você agrega dados genéticos aos escores de risco que levam só em conta os fatores de risco tradicionais. Isso tudo ainda está sendo bastante estudado”, diz.
Ao longo das últimas semanas tive o privilégio de conversar com médicos, pacientes e pessoas de perfis completamente diferentes (que me acompanham no rádio e em todas as redes da Novabrasil e nas minhas) que me procuraram para pedir ajuda, para agradecer pelo conteúdo, para contar suas histórias e para dividir que estão cada dia mais atentos à sua saúde. É preciso compreender que, sem saúde, nada acontece!
Sigo à disposição! Vamos nos cuidar!
- Canal Corpo Cabeça Coração: https://www.youtube.com/@RenataVeneri
- Instagram: https://www.instagram.com/rveneri/