Dia Mundial da Menopausa: ciência, informação e comportamento precisam andar juntos

Corpo Cabeça Coração com Renata Veneri
15:00 18.10.2024
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Corpo Cabeça Coração com Renata Veneri

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Saúde

Dia Mundial da Menopausa: ciência, informação e comportamento precisam andar juntos

Ainda faltam estudos e sobram preconceito e desinteresse pela saúde da mulher, mas estamos avançando

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- 18.10.2024 - 15:00
Dia Mundial da Menopausa: ciência, informação e comportamento precisam andar juntos
Foto: Divulgação.

Calores que surgem do nada, montanha-russa de humores, sono abalado, aumento de peso e aquele desespero ao ouvir o que nós, mulheres, estamos habituadas a ouvir desde a primeira menstruação: “Ah, é assim mesmo”, “Mulher tem dessas coisas”, “Você não está exagerando?”, “Faz parte da vida: acostume-se”.

Tenho 48 anos, estou no climatério, passei por alguns dos mais de 50 sintomas da menopausa descritos na literatura e ouvi de alguns médicos homens que “envelhecer é assim mesmo”.

Mudei de médicos, claro, e também uso o privilégio de poder conversar com tantos estudiosos da ciência e da medicina para informar outras mulheres sobre a individualidade e a beleza (sim, é lindo) da saúde feminina.

Se a gente parar para pensar que o único corpo capaz de se transformar para gerar um ser humano é o corpo feminino, e se a gente conseguir entender o corpo como a nossa casa, a nossa morada e a nossa forma de ser e estar neste mundo, sentindo e fazendo sentir, possivelmente a gente vai aprender a exigir respeito quando estivermos diante de profissionais da saúde, companheiros de vida, filhos, pais, chefes ou quem quer que seja.

Hoje é Dia Mundial da Menopausa e estou aqui para dividir um pouco do muito que sabe e estuda a endocrinologista Ana Priscila Soggia, especialista em saúde feminina, climatério e menopausa.

Antes de entrar nas questões técnicas, vamos ao mantra que te convido a adotar daqui adiante: “A gente não precisa aguentar nem TPM, nem menopausa, nem enxaqueca: precisamos receber um suporte adequado e diminuir essas mudanças que acontecem no nosso corpo – seja através da proposta hormonal ou não hormonal – para manter a nossa saúde e a nossa qualidade de vida”, ensina a médica. 

Dra. Ana Priscila lembra que a terapia de reposição hormonal existe há mais de 80 anos, que passou por fases diferentes de compreensão médica e científica sobre a sua eficácia, e que hoje o mais importante de tudo é tratar cada mulher de forma única e individualizada. “A terapia de reposição hormonal é a primeira linha de tratamento para sintomas da menopausa e a maior parte das mulheres será beneficiada por ela, sim. Mas há contraindicação para algumas mulheres, então, para estes casos, faremos uma proposta não hormonal.

Sabemos que ela é indicada para sintomas como calores, alterações de sono e de humor, perda de massa óssea, secura vaginal, aumento de peso com acúmulo de gordura na região abdominal, dores pelo corpo, névoa mental entre outros. Podemos ter essa diversidade de sintomas e isso será individual para cada mulher. É um momento muito intenso de mudança e é por isso que precisamos desse olhar atento e acolhedor”. 

No entanto, explica, os benefícios da reposição hormonal como forma de prevenção ainda não estão claros na literatura científica. O que estudos já mostram é que mulheres que fazem reposição hormonal têm menor risco para diabetes, osteoporose, infarto, AVC e câncer de intestino, por exemplo. Ou seja: a reposição hormonal traz benefícios para além da melhora dos sintomas da menopausa. Sobre a possível relação com o câncer de mama, um dos maiores temores das mulheres, Dra. Ana Priscila Soggia traz alguns dados.

CONFIRA ABAIXO:

“Embora haja estudos mostrando o aumento do risco, esse aumento é pequeno, um caso a mais em cada mil mulheres, e está relacionado ao uso de progestinas sintéticas. O primeiro estudo que mostrou essa relação foi o WHI, publicado em 2002, no qual um grupo que fazia uso de estrogênio em alta dosagem e de progestina sintética mostrou esse aumento de risco. Nos estudos seguintes os resultados foram diferentes, até porque as propostas de reposição hormonal também têm se modificado ao longo dos anos.

Hoje a gente não usa mais o estrogênio oral: a gente usa, de preferência, o estradiol transdérmico, via gel e adesivo. Na maioria das mulheres a gente não usa as progestinas sintéticas: hoje a primeira linha de tratamento é a progesterona natural micronizada, justamente porque nos estudos mais novos a gente teve um impacto muito pequeno ou nulo em relação ao câncer de mama”.

A endocrinologista reforça que a terapia de reposição hormonal deve ser feita sempre com acompanhamento médico, após a avaliação de exames e levando em conta o histórico clínico, as opções e as necessidades de cada mulher. Ou seja: nada de pegar a receita da vizinha, da irmã, da amiga. E nada de tolerar tapinha nas costas de médicos, médicas ou de quem quer que seja que vai tentar nos convencer de que “é assim mesmo”.

Apesar de todos os desconfortos, cansaços e descasos com a saúde feminina, não podemos e não devemos nem acreditar e muito menos aceitar que a nossa vida acabou porque estamos com 45, 48, 50, 55 anos. Não queremos viver mais ou menos: estamos vivas e queremos desfrutar. E a medicina está aí para nos proteger e auxiliar – assim como faz tão bem e tão mais rápido quando o paciente é do sexo masculino.

Veja também:

“Não fomos educadas nem treinadas na infância a cuidar de nós. Fomos ensinadas a cuidar sempre dos outros. Isso está equivocado. A mulher pode cuidar, sim, se assim o desejar. Ao mesmo tempo a sociedade como um todo minimizou grande parte dos sintomas relacionados exclusivamente às mulheres, como TPM e menopausa. Quantos estudos científicos a gente tem nessa área? Quantas medicações a gente tem disponível para questões exclusivamente femininas? Não é incomum as mulheres chegarem para o seu médico e falarem sobre menopausa e ouvirem que (todo o desconforto) ‘faz parte do envelhecimento e que é assim mesmo’. Não podemos aceitar!”.

Além de toda a questão cultural, comportamental, machista, misógina, a médica chama atenção para aspectos clínicos entre mulheres que não tratam os sintomas da menopausa. “Há estudos mais novos mostrando que mulheres que têm alteração de sono e fogachos, por exemplo, têm maior risco de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas – como o Alzheimer. Então, “aguentar” significa piora geral da nossa saúde, hoje e no futuro”.

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