Inês de Castro: “O envelhecimento da Claudia Raia e o nosso envelhecimento”
Inês de Castro: “O envelhecimento da Claudia Raia e o nosso envelhecimento”
RHs de empresas, campanhas de publicidade e seminários sobre longevidade estão usando gente famosa para falar sobre envelhecimento. Problema: eles não são o padrão dos velhos brasileiros; são a exceção
Colocar uma atriz famosa de 50 anos, cheia de preenchimento no rosto e corpo marombado por horas de exercícios, não é falar sobre inclusão etária. Ao contrário. Isso é criar um padrão de envelhecimento irreal como já fizemos com os chamados modelos de beleza nos anos 1980. E nós sabemos bem onde isso vai parar.
Muitas empresas, quando promovem seminários e contratam famosos para palestrar sobre suas experiências com o envelhecimento, ou quando contratam essas pessoas para comerciais de tv e plataformas digitais têm insistido em criar um modelo de envelhecimento ideal que não condiz com a realidade do país.
Eu gosto de dizer que uma coisa é o envelhecimento da espetacular Claudia Raia. A outra coisa é o nosso envelhecimento; o envelhecimento das pessoas comuns e anônimas.
É esse personagem (o idoso anônimo, comum) que as empresas deveriam exibir como retrato da velhice no nosso país. Porque há muitos e bons exemplos de gente “não famosa” envelhecendo bem, vivendo trajetórias admiráveis, sem gastar todo dinheiro da aposentadoria em clínicas de estética e salões de beleza. Não que isso seja recriminável, claro que não é. Mas é distante da realidade, não serve como padrão.
Os seminários e encontros sobre longevidade e o mercado do chamado “consumo prateado” estão virando um filão de negócios cheio de potencial. O velho é o novo cliente a ser fisgado e, para isso, jogam a isca do famoso como modelo a ser perseguido.
Acontece que gente vivida e mais experiente já entendeu que não vai dar para envelhecer como o Brad Pitt ou a Demi Moore. Tentar enganar essa gente experiente e bem esperta é perda de tempo, energia e dinheiro.