
Inês de Castro: “ESG de mentirinha”

Inês de Castro: “ESG de mentirinha”
Discurso sobre práticas ambientais, de governança e principalmente sobre condutas sociais servem como propaganda para muitas empresas, mas nem sempre se transformam em ações de verdade


São Paulo vai sediar um grande evento sobre longevidade e eu fui convidada para mediar um dos debates.
Perguntei que tipo de participação eles pretendiam, quem seriam os meus entrevistados nesse debate, quais seriam o dia e a hora do evento e o cachê.
Tudo explicado, menos o cachê.
Insisti e a organizadora respondeu: ah, não temos verba. É participação “voluntária”.
Ué, um evento com grandes patrocinadores e taxa de inscrição paga por quem for assistir as palestras e as apresentações, mas que não paga um único centavo para aqueles que estão ali trabalhando?
Como pode uma proposta dessas ter vindo de uma empresa que tem, como princípio, aproximar o trabalhador 50+ das empresas, para que encontrem – ambos – boas oportunidades?
Como é possível que uma empresa, que tem como personagem principal da sua atividade o trabalhador 50 e 60+, querer tirar vantagem (sim, porque quando só um lado ganha, o nome disso é vantagem) do trabalhador que ela proclama representar?
Ah, mas é uma boa vitrine, a contratante me respondeu (e ela estava convicta da proposta que estava me fazendo; não me pareceu que ela tivesse algum constrangimento).
Mas eu gostaria de lembrar que depois de 40 anos de labuta, nenhum trabalhador está em busca de espelho, aplauso ou vitrine e sim atrás de espaço de trabalho e remuneração, simples assim.
Dessa forma, chegamos onde eu queria; ao discurso e à prática no mercado de trabalho.
Usei minha própria experiência porque ela ilustra claramente o que passam muitos trabalhadores nas empresas que têm núcleos de diversidade, que pregam a aproximação intergeracional, que investem no discurso, que brigam para ter selos de certificação, que usam megafones potentes para contar ao mercado que elas são inclusivas mas, na prática não aplicam nada disso.