“Não gosto quando o brasileiro fala mal do Brasil”, diz presidente da Azul
“Não gosto quando o brasileiro fala mal do Brasil”, diz presidente da Azul
Em entrevista à Novabrasil, americano John Rodgerson contou ainda como a empresa de aviação tem feito para enfrentar a forte alta do dólar
Quando chegou ao Brasil, em 2008, o executivo americano John Rodgerson encontrou um dólar que custava em média R$ 1,70. Cerca de 16 anos depois, a mesma cotação ultrapassa os R$ 6. Um cenário extremamente desafiador para quem, como ele, trabalha com aviação. “Nosso combustível é dolarizado, nossas aeronaves são dolarizadas, as peças de reposição são dolarizadas, e até nossas dívidas são dolarizadas. De certa forma, somos um produto importado dentro do Brasil”, disse o Ceo da Azul Linhas Aéreas.
Em entrevista ao Jornal Novabrasil, Rodgerson contou algumas estratégias da empresa para tentar ‘driblar’ a pressão cambial e o alto custo de operação e fez um apelo pela valorização do país pelos próprios brasileiros. O americano vive há 16 anos no país, tem um filho brasileiro e disse que adora o bom humor das pessoas por aqui. Mas fez uma ressalva: “algo que precisa mudar é o amor pelo próprio país. Vejo muitos brasileiros que vão para Paris, Nova York, mas nunca visitaram Alagoas, Gramado, Amazonas ou as Cataratas do Iguaçu. Quantas vezes é preciso ir à Disney antes de explorar as belezas do Brasil?”, questionou.
Segundo ele, promover o turismo interno é essencial para o desenvolvimento do setor aéreo e para fortalecer a economia local. Rodgerson também destacou a importância de criar um sentimento de orgulho nacional, especialmente entre os jovens. “Quero que os jovens brasileiros acreditem mais no Brasil. Desafios existem, mas isso é verdade em qualquer lugar do mundo. Coisa que não gosto é quando o brasileiro fala mal do Brasil, vamos mostrar ao mundo o que temos de melhor.”
Desafios imensos
Mesmo diante de tempos difíceis para a aviação, com pandemia, fechamento do aeroporto do Rio Grande do Sul e alta do dólar, o presidente da Azul se mostrou confiante para 2025. “Vamos receber mais 15 aeronaves de nova geração da Embraer que são bem mais econômicas e queimam menos combustível. O combustível do Brasil é mais caro do mundo então será muito importante termos uma máquina que economiza mais”, destacou.
Para enfrentar o cenário adverso, a Azul aposta em inovação e eficiência. A frota com aeronaves mais econômicas deve consumir até 20% menos combustível. Além disso, a direção da empresa renegociou parte das dívidas para aliviar a pressão financeira. Apesar disso, Rodgerson destacou que o setor aéreo não consegue repassar o aumento de custos de forma imediata para os passageiros. “Se o repasse fosse fácil, nenhuma empresa aérea teria quebrado. Mas quase todas as companhias do Brasil, com exceção da Azul, já passaram por esse problema ao menos uma vez na história.”
Abastecimento estratégico
Um dos maiores desafios enfrentados pela Azul é o ICMS sobre o querosene de aviação, que varia de estado para estado. Para driblar esses custos, a empresa desenvolveu estratégias de abastecimento em estados onde o imposto é mais baixo, como Minas Gerais e Pernambuco. “A gente chega a abastecer em um estado para evitar abastecer em outro. É uma loucura, mas necessário para reduzir os custos”, afirmou. Essa diferença tributária reflete as dificuldades enfrentadas pelo setor, que precisa de soluções criativas para se manter competitivo.
Judicialização no setor aéreo
Outro ponto levantado por Rodgerson foi a quantidade desproporcional de processos judiciais que envolvem o setor aéreo no Brasil. Ele destacou que, embora o país represente apenas 3% dos voos mundiais, responde por 98% das ações judiciais contra companhias aéreas. “Isso não faz sentido. Se corrigirmos esse problema, podemos crescer muito mais. Em vez de reclamar, prefiro olhar para as oportunidades de desenvolvimento do turismo no país e trabalhar para superar esses desafios.”
O papel da inovação no setor aéreo
Além dos desafios imediatos, a o presidente da Azul disse que a Companhia também está olhando para o futuro com foco em sustentabilidade. A empresa está trabalhando em parceria com a Raízen e outras companhias para desenvolver combustíveis sustentáveis. No entanto, Rodgerson acredita que a maior contribuição para o momento vem de motores mais eficientes. “Combustíveis sustentáveis ainda representam uma fração mínima do que é usado hoje. Por isso, investir em tecnologia que economiza combustível é o caminho mais eficiente para reduzir custos e emissões.”
Crescimento no mercado doméstico
A Azul também tem expandido sua presença em aeroportos estratégicos, como Congonhas, em São Paulo, apesar dos desafios logísticos que incluem obras e congestionamento. “Sim, é um momento complicado, mas as obras estão lá para melhorar a eficiência no futuro. Temos que olhar para frente e aproveitar as oportunidades.” Para ele, o Brasil é um país gigante, abençoado com recursos naturais e culturais. “Se investirmos nas coisas certas, podemos transformar o setor aéreo e o turismo em motores de crescimento para o país inteiro”, finalizou.
Confira a entrevista completa: