
Entenda o significado por trás das principais obras de Tarsila do Amaral
Entenda o significado por trás das principais obras de Tarsila do Amaral
Muito além do Abaporu: conheça a trajetória de Tarsila do Amaral por meio de suas obras mais emblemáticas e descubra como ela reinventou a arte brasileira no século 20


Poucos artistas brasileiros conseguiram traduzir o país em cores e formas como Tarsila do Amaral. Em vez de pincelar apenas paisagens ou retratos, ela ousou reinventar o Brasil no imaginário coletivo. Criou corpos exagerados, cenários tropicais quase surreais e deu rosto ao que viria a ser chamado de “arte brasileira moderna”.
Mas o que está por trás de obras como Abaporu ou Antropofagia? Cada uma de suas telas carrega debates sobre identidade, crítica social e ruptura com os padrões europeus. Vem com a gente percorrer as fases da artista por meio de suas principais obras, em ordem cronológica, para entender o que fez de Tarsila um ícone eterno.
As maiores obras de Tarsila do Amaral: cronologia e significados
1. A Negra (1923)

- Período: Fase Pau-Brasil
- Movimento: Modernismo Brasileiro (fase inicial)
- Onde está: MASP (Museu de Arte de São Paulo)
Tarsila pintou A Negra pouco depois de voltar de Paris, onde estudou com Fernand Léger. A obra marca seu mergulho no Brasil como tema, retratando uma figura feminina negra, de formas arredondadas e sem idealização, com forte presença corporal.
Muito debatida, a obra mistura críticas e elogios. Para alguns, é um retrato da força e ancestralidade negra. Para outros, revela estereótipos coloniais. O quadro está no centro de discussões sobre raça, corpo e olhar europeu no Brasil.
2. Abaporu (1928)

- Período: Fase Antropofágica
- Movimento: Antropofagia
- Onde está: MALBA (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires)
Presente de aniversário para Oswald de Andrade, o quadro inspirou o Manifesto Antropofágico. Com um corpo imenso, pés grandes e cabeça minúscula, o personagem parece ingênuo, mas concentra força simbólica.
É o símbolo da Antropofagia cultural: devorar o estrangeiro, digerir e criar algo brasileiro. O sol ao fundo, a flor exótica e a anatomia desproporcional são chaves para ler o Brasil como potência original.
3. Antropofagia (1929)

- Período: Ainda na fase antropofágica
- Movimento: Antropofagia
- Onde está: Acervo particular (reproduções em diversos museus)
Unindo elementos do Abaporu e da Negra, a obra traz um casal nu e tropical, de estética cubista, cercado por plantas e animais. É como se Tarsila fundisse passado, presente e mito em uma imagem.
É o manifesto visual da união entre natureza, erotismo e brasilidade. Uma crítica ao colonialismo, propondo que a identidade brasileira nasce da fusão e não da cópia do que vem de fora.
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4. Operários (1933)
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- Período: Fase Social
- Movimento: Realismo Social Brasileiro
- Onde está: Palácio do Governo de São Paulo
Após a separação de Oswald e uma temporada na União Soviética, Tarsila mergulhou em temas sociais. Operários traz dezenas de rostos lado a lado, uniformizados e sem expressão, diante de uma fábrica.
A obra retrata a massa trabalhadora em tempos de industrialização, com destaque para a diversidade étnica dos retratados. É um grito silencioso sobre desigualdade, desumanização e o apagamento da individualidade no mundo do trabalho.
5. Segunda Classe (1933)

- Período: Fase Social
- Movimento: Realismo Social
- Onde está: Acervo do MAM-SP
Inspirada em uma viagem de trem, a pintura mostra figuras amontoadas em vagões de segunda classe. O desconforto e a precariedade são evidentes nos rostos e na paleta de cores esmaecida.
É uma crítica direta à divisão de classes no Brasil urbano. Tarsila aqui não idealiza nem exagera: apenas expõe uma realidade cotidiana, com o mesmo rigor visual que dedicava às paisagens tropicais.
6. Paisagem com Touro (1925)

- Período: Fase Pau-Brasil
- Movimento: Modernismo Pau-Brasil
- Onde está: Museu de Grenoble (França)
Nesta fase, Tarsila buscava uma “arte brasileira com cores caipiras”. O touro, animal símbolo da força rural, aparece em meio a uma paisagem quase onírica.
O campo brasileiro é reinventado com elementos cubistas e cores vibrantes. O Brasil rural é, ao mesmo tempo, real e mítico, uma paisagem simbólica que foge do exotismo europeu e busca novas raízes visuais.
Muito além do modernismo: o impacto de suas obras
Tarsila do Amaral não pintou o Brasil como ele era, mas como ele poderia ser visto, com ousadia, crítica, invenção e liberdade. Suas obras falam de um país em construção, das tensões entre tradição e modernidade, do desejo de criar uma identidade que não imitasse a Europa, mas que se nutrisse de suas próprias raízes.