Hoje, o eterno vocalista e líder da Legião Urbana completaria 63 anos de idade e nós preparamos uma matéria especial sobre este grande nome da música brasileira para vocês, com sua trajetória, vida e obra, além de histórias das composições e dos bastidores. Vale a pena conferir e ainda terminar escutando nossa playlist recheada de Renato Russo.

Se estivesse vivo, Renato Russo estaria completando 63 anos neste 27 de março de 2023. 

O cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista foi – por 14 anos, de 1982 a 1986 – líder e vocalista de uma das mais importantes bandas do cenário rock brasileiro de todos os tempos e fez história com suas canções, consagradas até os dias de hoje, influenciando toda uma geração para sempre: a Legião Urbana.

Renato é um dos maiores poetas da MPB, suas letras geniais, carregadas de ideais, sensibilidade e críticas sociais, e sua interpretação única carregam uma legião, com o perdão do trocadilho, de fãs pelo Brasil inteiro.

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Aniversário de Renato Russo: conheça toda a trajetória do artista! | Foto: Acervo/CEDOC.

O nome artístico

Nascido Renato Manfredini Júnior, no Rio de Janeiro, em 1960, Renato adotou o sobrenome artístico “Russo” em homenagem ao filósofo inglês Bertrand Russell, ao filósofo, escritor e compositor suíço Jean-Jacques Rousseau e ao artista francês Henri Rousseau (ambos lê-se Russô).

Infância de Renato Russo nos Estados Unidos

Renato Russo viveu dos sete aos dez anos em Nova York, nos Estados Unidos, por conta de uma transferência profissional de seu pai, sendo introduzido à língua e à cultura norte-americana desde muito cedo.

A epifisiólise e as primeiras composições

Aos 13 anos, voltou ao Brasil e passou a morar em Brasília. Entre os 15 e 16 anos, enfrentou uma doença óssea rara, a epifisiólise, que o deixou por um longo período entre a cama e a cadeira de rodas.

Durante o período de tratamento, Renato se dedicou quase integralmente a ouvir música, iniciando sua extensa coleção de discos dos mais variados estilos. Já nesta época, começou também a compor letras e músicas compulsivamente em casa.

Simultaneamente à cura da epifisiólise, Renato passou no vestibular para Jornalismo no Centro de Ensino Unificado de Brasília.

Empregos de Renato Russo antes da música

Entre os anos de 1978 e 1981, Renato deu aulas de inglês na escola Cultura Inglesa. Ele era um professor muito procurado pelos pais de alunos, que pediam que seus filhos fossem matriculados para suas aulas, porém foi demitido após alguns atritos entre ele e a direção. 

Na mesma época, Renato trabalhou como repórter em um programa de rádio que defendia os direitos dos consumidores, e ainda chegou a trabalhar na apresentação de um programa de rádio sobre os Beatles, em uma rádio de Brasília.

O Aborto Elétrico

Em 1978, Renato Russo conheceu o também jovem baterista Fê Lemos, e os dois descobriram o gosto em comum pelo punk rock inglês e americano. Como eram raros os punks em Brasília, Renato e ficaram amigos e começaram uma banda chamada  Aborto Elétrico, junto com o guitarrista André Pretorius, filho de um embaixador da África do Sul.

A primeira formação tinha então Renato Russo no baixo, Fê Lemos na bateria e André Pretorius na guitarra. O grupo era influenciado por bandas como Sex Pistols e Gang of Four.

Depois de realizarem seu primeiro show instrumental, começaram um movimento punk em Brasília, nomeado Turma da Colina, junto com a Plebe Rude, Os Paralamas do Sucesso e outras bandas da cidade.

Petrorius completou 18 anos no final de 1979 e teve que voltar para servir o exército na África do Sul. Renato passou então para a guitarra, assumiu os vocais da banda e também as letras, passando a compor constantemente.

Quem assumiu o baixo foi o irmão de Fê, Flávio Lemos. Petrorius voltou a tocar com a banda no final do ano de 1980, quando estava de férias no Brasil, e Renato assumiu só os vocais. Quando voltou para a África, Petrorius foi substituído por Ico Ouro-Preto, irmão de Dinho Ouro-Preto. Petrorius faleceu pouco tempo depois, em 1988, aos 27 anos, por uma overdose de heroína, na Alemanha.

A partir de 1981, a banda passou a fazer shows mais profissionais, porém, logo quando estavam ganhando certa fama no circuito punk de Brasília, e Renato passaram a se desentender com frequência e a banda acabou se separando em 1982. Mais tarde, e Flávio Lemos se juntaram a Dinho Ouro Preto e Loro Jones, dando origem ao Capital Inicial.

São da época do Aborto Elétrico composições que depois vieram a se tornar grandes sucessos ou no Capital ou na Legião, como: Que País É Esse? (composição solo de Renato), Veraneio Vascaína e Fátima (ambas de Flávio e Renato), e Música Urbana, (de Fê, Flávio, Renato e Petrorius).

A música Química, escrita por Renato nessa época – e que primeiramente foi rejeitada por Fê Lemos – se tornou a primeira canção da chamada Turma da Colina a ser gravada em fonograma e lançada em LP e K7 por todo o país, por meio dos amigos Os Paralamas do Sucesso, em seu primeiro disco: Cinema Mudo, em 1983.

O Trovador Solitário

Em 1982, Renato Russo passou a fazer trabalhos solo. Neste período ficou conhecido como O Trovador Solitário. Passou a abrir shows das bandas dos amigos de Brasília e, por um período, escutou algumas vaias do público punk, o que não abalou o artista, que vivia uma fase bem importante, influenciado pelo folk de Bob Dylan e Nick Drake.

Fazendo shows com seu violão de 12 cordas, ele criou músicas clássicas como Faroeste Caboclo, Eduardo e Mônica e Música Urbana 2. Já cansado de tocar sozinho, no mesmo ano, foi em busca de novos parceiros para um trabalho em grupo, seu sonho era atingir o sucesso com uma banda de rock.

O início da Legião Urbana

A Legião Urbana surgiu quando Renato se juntou ao baterista e compositor Marcelo Bonfá. Em 1983, Dado Villa-Lobos também entrou na banda, assumindo a guitarra, e em 84, Renato Rocha assumiu o baixo, ficando na banda até 89, quando ela voltou a ser um trio.

O nome do grupo veio da frase em Latim, “Urbana Legio Omnia Vincit”, que significa “Legião Urbana a Tudo Vence”. O encarte de todos os discos da banda contou com esta frase.

Os amigos Herbert Vianna e Bi Ribeiro, ex-alunos de inglês de Renato em Brasília, integravam Os Paralamas do Sucesso, que já estava no elenco da gravadora EMI-Odeon desde 1983, e indicaram uma fita demo da nova banda de Brasília para a gravadora.

Depois da gravação chegar às mãos de executivos da EMI-Odeon, a Legião Urbana foi contratada e lançou seu primeiro álbum, produzido em 1984 e lançado em 1985, chamado: Legião Urbana.

As principais influências da Legião eram as bandas de pós-punk que surgiram na época. Especificamente para Renato Russo, que se espelhava no trabalho de Robert Smith, vocalista do The Cure, e Morrissey, o então vocalista da banda The Smiths.

O primeiro disco da Legião Urbana

Já com o primeiro disco, Legião Urbana, a banda emplacou os imensos sucessos: Será (de Renato, Dado e Bonfá); Ainda é Cedo e Geração Coca-Cola (composições solo de Renato Russo). O disco também contou com o hit Por Enquanto (de Renato), que fez muito sucesso na voz de Cássia Eller anos depois.

A Revista Bizz, leitura obrigatória para os amantes da música daquela época, elegeu a Legião como a melhor banda e Renato Russo o melhor cantor e letrista daquele ano.

1985 foi o ano em que se encerrou o período sombrio da ditadura militar no Brasil e muitas das letras da banda foram inspiradas pelo clima, os anseios e as lembranças que rondavam a juventude daquela época.

O primeiro disco da Legião possui um forte engajamento político-social, com letras que fazem críticas contundentes a diversos aspectos da sociedade brasileira, mas que também inspiram esperança e amor.

A Legião Urbana apresentava um conteúdo que qualquer jovem brasileiro dos anos 80 compreendia e se identificava. O álbum foi considerado um dos maiores discos de rock nacional da história.

Renato Russo disse uma vez em entrevista que escrevia canções que conversavam sobre experiências urbanas do que é ser um jovem brasileiro vivendo a partir dos anos 70, com traços românticos e narrativos nas letras.

Letras essas com as quais os jovens se identificavam muito e que Renato dizia não gostar de explicar o significado, ele preferia que cada pessoa identificasse as mensagens das canções dentro do seu universo interior.

O disco vendeu mais de 550 mil cópias e foi classificado na posição 40 na lista dos 100 maiores discos da música brasileira pela Rolling Stone Brasil.

O disco Dois

No ano seguinte, em 1986, a banda lançou seu segundo álbum, Dois, com um estilo mais próximo do folk e letras mais líricas e interiorizadas, e o sucesso continuou imenso. São deste álbum grandes clássicos, hinos de uma geração, como: Tempo Perdido, Índios e Música Urbana (todas composições de Renato), e Quase Sem Querer (de Renato, Dado e Renato Rocha).

Todas essas músicas se tornam hits nas rádios de todo o Brasil, mas o maior sucesso do disco foi Eduardo e Mônica, canção escrita por Renato Russo, que conta a história de dois jovens que se apaixonam apesar dos estilos de vida diferentes.

Esse álbum é o segundo mais vendido da banda, com mais de 1 milhão e 800 mil cópias vendidas, e ocupa a posição 21 da lista dos 100 maiores discos da música brasileira pela Rolling Stone Brasil.

Que País É Este?

Já em 1987, saiu o terceiro álbum da banda, Que País É Este, estourando o improvável mega-hit, como a banda mesmo descreve, Faroeste Caboclo. Considerada inicialmente muito grande, a música tem nove minutos e possui mais de 150 versos, sem refrão para ocupar a faixa radiofônica, isso logo caiu por terra.

A música conta a saga do brasileiro João do Santo Cristo, personagem criado por Renato Russo, em 1979.

Renato considerava Faroeste Caboclo sua Hurricane – canção de muito sucesso de Bob Dylan sobre o boxeador que passou anos injustamente atrás das grades – além de se basear inicialmente em um repente, com similaridades com as canções de Raul Seixas e com Domingo No Parque, de Gilberto Gil.

Outras canções importantes do disco que fizeram muito sucesso nas rádios são: a faixa-título, que foi escrita por Renato em 1978, quando ele tinha apenas 18 anos e estava começando seu projeto com o Aborto Elétrico, e que depois fez muito sucesso também com Os Paralamas do Sucesso; Eu Sei (também de Renato); e Angra dos Reis (de Renato Russo, Renato Rocha e Marcelo Bonfá).

Esse é o terceiro álbum mais vendido da banda, com mais de um milhão de cópias.

As Quatro Estações e histórias das músicas Pais e Filhos e Meninos e Meninas

Em 1989, a Legião Urbana lançou seu disco mais maduro até então: As Quatro Estações. Entre as faixas de imenso sucesso estão os hits Pais e Filhos, Há Tempos, Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto e Meninos e Meninas (todas composições de Renato, Dado e Bonfá), além de Monte Castelo (composição de Renato Russo).

Embora fosse muitas vezes interpretada ou entoada em tom festivo, Renato alertou em uma entrevista que ficava assustado por, muitas vezes, as pessoas não perceberem que Pais e Filhos é uma canção de dor, que fala do suicídio de uma garota que se jogou do quinto andar porque tinha problemas com os pais e dos desencontros entre gerações.

Já a canção Meninos e Meninas foi um grito de liberdade de toda uma geração abafada pelo preconceito. Em sua letra, Renato Russo fala não somente sobre bissexualidade, mas sobre todos os questionamentos e descobertas que vivemos ao longo da nossa adolescência e que nos acompanham por toda a nossa vida. Foi em uma histórica entrevista à revista Bizz que Renato confirmou ser bissexual.

Nove das onze músicas do álbum tocaram no rádio e rapidamente o disco se tornou o mais vendido da carreira da banda, com mais de 2,5 milhões de cópias apenas no ano de lançamento.

O HIV e a canção para Cazuza

A música Feedback Song For a Dying Friend, também desse disco, foi feita pelo trio em homenagem ao amigo Cazuza, que tinha anunciado ser portador do vírus HIV, sendo a primeira figura pública do país a assumir o assunto abertamente.

Renato soube meses depois que também tinha a doença. Ele escreveu a canção em inglês e pediu que o escritor Millôr Fernandes traduzisse para o português, para o encarte do disco.

Millôr conta em um artigo que “Traduzido o poema, sendo o poema audacioso e seu autor vivo, entrei em contato com ele para aprovação. Renato não corrigiu uma palavra. Apenas, aqui e ali, murmurava, perplexo e escandalizado: ‘Deus, do céu, eu escrevi isso?’, confirmando a minha tese de que não há bilíngue. Só quando ouviu em sua própria língua o que tinha escrito em inglês, Renato percebeu a audácia do que dizia.

Também em 89, Renato Russo descobriu ser HIV positivo. Ele nunca assumiu isso publicamente em vida. Logo que descobriu, se reuniu com o empresário Rafael Borges e pediu a ele que organizasse tudo após sua morte.

O álbum V e o encontro de Renato Russo e Cássia Eller

Em 1991, é lançado V, o quinto disco da Legião Urbana, que trouxe um pouco da reflexão e tristeza provenientes de uma fase emocionalmente instável de Renato Russo e de sua dependência tóxica: ele passou a beber ainda mais quando descobriu a doença.

A turnê que se seguiu teve que ser interrompida por conta disso. O disco tratou também de uma crise econômica recente no país, por causa do Plano Collor.

Entre os grandes sucessos do álbum, considerado um trabalho de rock progressivo, estão: O Teatro dos Vampiros, O Mundo Anda Tão Complicado e Vento no Litoral (todas compostas pelo trio Renato, Bonfá e Dado). Essa última, com letra escrita por Renato para o ex-namorado americano Scott, quando voltou para sua terra natal após morar com ele alguns meses no Brasil, ganhou uma versão belíssima de Cássia Eller, em 1999, em um tributo ao grande amigo, feito pelo Multishow.

Graças à tecnologia, em 2002, quando ambos já haviam morrido, Renato e Cássia dividiram os vocais dessa canção, no disco Participação Especial Cássia Eller, uma compilação de duetos feitos pela cantora.

Renato escreveu ainda, para a amiga Cássia Eller, em 1994, a letra de 1º de Julho, canção que fala sobre a gravidez de Cássia de seu filho Chicão.

1992 – Dois discos e a história do improvável hit Hoje a Noite Não Tem Luar

Em 1992, a Legião Urbana lançou dois discos para a alegria dos fãs: um deles, o álbum duplo Músicas para Acampamentos, que trouxe gravações ao vivo em shows e especiais da banda para o rádio e a televisão, entre 1985 e 1992.

O outro, é o antológico Acústico MTV Legião Urbana, primeiro álbum ao vivo da banda, que também trouxe versões ao vivo para os maiores clássicos da Legião. O disco, que só foi lançado em CD em 1999 e em DVD em 2001, vendeu mais de 2 milhões de cópias. Foi o segundo programa da série Acústico MTV, o primeiro havia sido com a banda Barão Vermelho, em 1991.

O single principal do álbum é Hoje a Noite Não Tem Luar, versão em português para Hoy Me Voy Para México, da boy band porto-riquenha Menudo, criada por Carlos Colla. Em um momento da apresentação em que a produção pediu um tempo para trocar as fitas de gravação, Renato disse em tom de piada que tocaria a faixa, e a brincadeira acabou virando hit com extensa execução nas rádios em 1999.

O Descobrimento do Brasil e a música preferida de Renato Russo

Já em 1993, a banda lançou o álbum O Descobrimento do Brasil, em uma época em que Renato Russo tinha iniciado o tratamento para se livrar da dependência química e se mostrava otimista quanto ao seu sucesso.

O álbum foi dedicado ao músico Tavinho Fialho, baixista que acompanhou a banda na turnê do álbum anterior e que morreu em um acidente. Tavinho é pai de Chicão, filho de Cássia Eller, para quem Renato escreveu a música 1º de Julho, em 1994.

Com canções fortes e ao mesmo tempo doces, o álbum tem notas de esperança, mas foi também permeado por tristeza e saudosismo. Ainda assim, é considerado por muitos o álbum mais alegre e delicado da Legião Urbana. O art rock passa a ser muito experimentado no disco, junto com o rock alternativo.

Entre as canções do disco está Giz (de Renato, Bonfá e Dado), música preferida de Renato Russo, que ele disse se sentir mais feliz por ter feito. A canção fala sobre um momento de sua infância, quando ele e os amigos voltavam da escola e começava a chover: eles pegavam tijolos de construção e rabiscavam no chão o sol que a chuva apagou.

A única canção de crítica político-social do disco, com fortes traços de pessimismo, é Perfeição, que também é uma composição do trio.

Os músicos experimentaram novos instrumentos no disco, além de tocarem instrumentos uns dos outros. O baterista Marcelo Bonfá tocou teclados, enquanto o guitarrista Dado Villa-Lobos experimentou o dobro e o bandolim e Renato registrou uma performance na cítara.

O disco recebeu o nome de O Descobrimento do Brasil porque veio em uma época em que Renato se recuperava das drogas e os demais integrantes se mostraram otimistas com o futuro. Além disso, conforme Renato declarava, eles acreditavam no Brasil e que existiam muitas coisas legais aqui. E afirmava: “Ficam querendo que a gente seja ladrão, que seja do jeito que eles são. Nós não somos, não.”

Projetos solo dos integrantes da Legião – primeiro disco solo de Renato

O ano de 1993 também marcou o início do envolvimento dos membros em projetos solo. Dado se juntou ao baixista da Plebe Rude, André X, para fundar a Rock-It!, uma gravadora independente que revelava artistas novos. Marcelo passou a realizar trabalhos de computação gráfica e Renato planejou o seu primeiro disco solo, The Stonewall Celebration Concert, que sairia no ano seguinte.

O disco contou com 21 faixas com Renato Russo cantando em inglês, com composições de nomes como Bob Dylan, Billy Dean, Madonna, Quincy Jones e Lionel Richie.

O álbum é uma homenagem aos vinte cinco anos da famosa Rebelião de Stonewall, em Nova Iorque, de luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+.

Parte dos royalties do disco foi doada à campanha Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, criada pelo sociólogo e ativista Herbert de Souza, o Betinho, que morreu em 1997, vítima da AIDS. O encarte traz informações sobre entidades sociais de proteção às crianças e mulheres, à natureza e aos homossexuais e portadores do HIV. Foi um dos primeiros álbuns totalmente gravados em computador no mercado brasileiro.

O último show da Legião Urbana

O último show da Legião Urbana aconteceu em janeiro de 1995, no palco do Reggae Night, em Santos, litoral do estado de São Paulo. Eventualmente, latas começaram a ser arremessadas na banda. Quando Renato foi atingido, ele se deitou no chão, ocultando todo o seu corpo da plateia, e assim cantou por 45 minutos. O público só via o seu braço, que ele levantava para checar as horas e mostrar a todos que aguardava ansiosamente pelo fim da apresentação.

Segundo disco solo

Em 1995, Renato também lançou seu segundo álbum solo, Equilíbrio Distante, onde trouxe 13 regravações de canções em italiano, lançadas originalmente por cantores do país europeu, como Laura Pausini e Fiorella Mannoia. Renato viajou à Itália para aprofundar suas pesquisas para o disco, onde também pesquisou bastante sobre seus antepassados.

Último álbum da Legião Urbana com Renato em vida

Em 1996, a banda lançou A Tempestade ou o Livro dos Dias, o último álbum da Legião lançado com Renato Russo em vida. O disco foi marcado por canções mais introspectivas e depressivas, alternando entre as sonoridades pesadas de Natália e Dezesseis (ambas composições dos três integrantes da banda).

As letras abordaram temas como solidão, passado, amor, depressão, soropositividade, intolerância e injustiça, trazendo bastante tristeza para as interpretações. Em A Via Láctea, Renato fala sobre a sua relação com o HIV, como uma autobiografia. As demais faixas do álbum possuem apenas a voz-guia do cantor, que não pôde gravar as vozes definitivas por conta do seu estado de saúde.

Algumas outras canções do disco sugerem uma despedida antecipada, como diz o trecho “E quando eu for embora, não, não chore por mim”, da canção Música Ambiente.

A despedida e os discos póstumos

Renato faleceu em outubro de 1996, 21 dias após o lançamento do disco, de doença pulmonar obstrutiva crônica, septicemia e infecção urinária, todas consequências da AIDS.

Onze dias após a morte do cantor, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, ao lado do empresário Rafael Borges, anunciaram o fim das atividades da Legião Urbana, mas ainda tinham três discos em contrato com a gravadora para lançar.

Vários discos póstumos foram lançados após a morte de Renato, tanto da banda, quanto trabalhos solo do cantor. O jornalista e produtor Marcelo Fróes foi responsável por grande parte das pesquisas desse material póstumo.

Em 1997, nove meses após a morte de Renato, a banda lançou o álbum póstumo Uma Outra Estação, com canções que sobraram das sessões para o disco anterior.

A primeira página do encarte do disco trazia a frase: Ouça este disco da primeira à última faixa. Esta é a história de nossas vidas.

Também em 97, foi lançado um disco solo póstumo de Renato, chamado O Último Solo, composto por faixas gravadas para os dois álbuns solo anteriores do músico.

Conforme um texto assinado pelo produtor João Augusto e publicado no encarte, gravar mais faixas do que o que realmente sairia nos álbuns finais era comum para Renato, o próprio músico comentava que seus discos nasciam triplos, viravam duplos e no fim eram lançados como simples.

Algumas faixas que haviam sido gravadas apenas com as vozes-guia de Renato tiveram de passar por um longo processo de ajustes técnicos para que ficassem publicáveis. Algumas tinham o som do metrônomo, por exemplo. Foi para efetuar estas correções que O Último Solo se utilizou do Auto-Tune. Esse foi o primeiro registro de uso da ferramenta no Brasil.

O ano de 1998 é marcado pelo lançamento da compilação Mais do Mesmo, uma coletânea com os maiores sucessos da banda. Todas as faixas foram escolhidas pelo guitarrista Dado Villa-Lobos e pelo baterista Marcelo Bonfá e retiradas dos oito álbuns de estúdio do grupo. No Brasil, foram vendidas mais de 1 milhão de cópias.

Em 2001, foi lançado o álbum duplo Como é Que Se Diz Eu Te Amo, gravado no Metropolitan, RJ, em 1994, como parte da turnê do então recém-lançado O Descobrimento do Brasil.

Em 2003, foi lançado mais um álbum solo póstumo de Renato Russo: Presente. Ele conta com grandes sucessos como: Mais Uma Vez (parceria de Renato com Flávio Venturini); Boomerang Blues; A Carta (de Raul Sampaio e Benil Santos, com participação de Erasmo Carlos); Cathedral Song, canção de Tanita Tikaram, que ganhou uma versão em português de Zélia Duncan (Catedral) e que Renato já havia gravado em inglês no seu primeiro disco solo; e A Cruz e A Espada (de Paulo Ricardo e Luiz Schiavon, com participação de Paulo).

O álbum também trouxe trechos de entrevistas de Renato Russo e a participação de Zélia Duncan, Erasmo Carlos e Leila Pinheiro.

Em 2004, foi lançado outro disco duplo, As Quatro Estações Ao Vivo, gravado a partir de dois shows realizados no Estádio Palestra Itália, em São Paulo, em agosto de 1990.

Em 2008, foi lançado o disco O Trovador Solitário, criado a partir de fitas cassete gravadas por Renato durante sua fase solo, entre as bandas Abordo Elétrico e Legião Urbana.

Em 2009, saiu o CD e DVD Legião Urbana e Paralamas Juntos. O show, gravado em 1988 no Teatro Fênix da Rede Globo, no Rio, para um especial de TV, foi exibido no mesmo ano e trazia as duas bandas que despontavam no cenário brasileiro na época se revezando no palco. Posteriormente foi lançado em CD e DVD.

Na época, Renato Russo e Herbert Vianna cantaram juntos, pela primeira e única vez, as músicas Nada por Mim (de Herbert e Paula Toller), e Ainda É Cedo.

Homenagens

Em 2006, vários grandes nomes da música popular brasileira participaram do disco Renato Russo – Uma Celebração, como: Paulo Ricardo, Plebe Rude, Vanessa da Mata, Titãs, Fernanda Takai e John Ulhoa, Cidade Negra, Chorão e Capital Inicial.

Também em 2008, a revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, e Renato Russo ocupa o 25° lugar.

Em 2011, Dado e Bonfá conduziram, juntamente com a Orquestra Sinfônica Brasileira, um tributo à Legião Urbana durante o Rock in Rio 4. O concerto contou com convidados que cantaram alguns sucessos da banda, entre eles, Rogério Flausino, Pitty e Herbert Vianna, além de um medley especial feito pela Orquestra Sinfônica Brasileira com trechos de canções do grupo.

No ano seguinte, a MTV Brasil organizou um novo tributo para a série MTV Ao Vivo, em São Paulo, pelos 30 anos de início das atividades da Legião Urbana. A homenagem teve a participação do ator e diretor Wagner Moura como vocalista principal.

Em 2015, André Frateschi, assumiu o vocal, com o projeto Legião Urbana 30 Anos, que consistiu em uma série de shows para comemorar os pouco mais de 30 anos do lançamento do primeiro disco, reunindo o repertório total da banda e sucessos dos demais álbuns do grupo.

Devido ao grande sucesso de crítica e pedidos dos fãs, a Legião Urbana 30 Anos retornou em setembro de 2018 com uma nova turnê, desta vez para apresentar o segundo e terceiro álbuns de estúdio da banda.

Cinema

Também em 2013, estreou o filme Somos Tão Jovens, que retratou a adolescência de Renato Russo – interpretado pelo ator Thiago Mendonça – e o início de seu interesse pela música, abordando a criação e extinção do Aborto Elétrico e também sua fase como O Trovador Solitário e os dois primeiros anos da Legião Urbana.

No mesmo ano, foi lançado o longa Faroeste Caboclo, adaptação da canção homônima de Renato. No elenco, atuaram Fabrício Boliveira como João de Santo Cristo, Ísis Valverde como Maria Lúcia, Felipe Abib como Jeremias e César Troncoso como Pablo.

Em 2022, foi lançada a adaptação cinematográfica de Eduardo e Mônica. O filme traz Gabriel Leone como Eduardo e Alice Braga como Mônica.

E aí, gostou do nosso Especial Renato Russo?

Mas ainda não acabou! Preparamos também uma Playlist Especial Renato Russo, que traz as principais canções do aniversariante do dia, em ordem cronológica de lançamento, para que vocês façam uma viagem pela trajetória do artista.

Caso queiram saber ainda mais detalhes sobre Renato e a Legião Urbana, escutem a audiobiografia original Novabrasil – Acervo MPB Especial Legião Urbana.

Playlist especial Renato Russo

1. Que País É Esse? (Renato Russo)

2. Faroeste Caboclo (Renato Russo)

3. Eduardo e Mônica (Renato Russo)

4. Será (Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá)

5. Ainda é Cedo (Renato Russo)

6. Geração Coca-Cola (Renato Russo)

7. Tempo Perdido (Renato Russo)

8. Quase Sem Querer (Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Renato Rocha)

9. Eu Sei (Renato Russo)

10. Angra dos Reis (Renato Russo, Renato Rocha e Marcelo Bonfá)

11. Pais e Filhos (Renato, Dado e Bonfá)

12. Há Tempos (Renato, Dado e Bonfá)

13. O Mundo Anda Tão Complicado (Renato, Dado e Bonfá)

14. Mais Uma Vez (Renato Russo e Flávio Venturini)

15. Boomerang Blues (Renato Russo)

16. Cathedral Song (Tanita Tikaram – Participação: Zélia Duncan)

17. A Cruz e A Espada (de Paulo Ricardo e Luiz Schiavon, com participação de Paulo)

18. Nada por Mim (de Herbert e Paula Toller)